15 de setembro de 2004

Para dias demasiado nublados, Para noites demasiado sóbrias

«Deve-se estar sempre bêbado, nada mais conta. Para não sentir o horrível fardo do tempo que esmagou os vossos ombros e nos faz prender (...), deveis embebedar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embebedai-vos. E se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais, já diminuída ou desaparecida a bebedeira, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que roda, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio vos responderão; “são horas de vos embebedardes! Para não serdes os escravos martirizados do tempo, embebedai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.»

Baudelaire, Petits – Poémes en Prose, 1869



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