8 de abril de 2012

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Do filme Beginners

INT. PARTY BATHROOM - NIGHT

The party’s winnowing down in the background - “Julius” and Oliver look at each other in the mirror for a beat, and then simultaneously take their wigs off, revealing their true selves.

OLIVER
Hello... Shes mouths a silent “hi”...

OLIVER Can I give you my number?
She pulls out her pad and pen and hands them to him.
Thanks.

OLIVER
As he writes,
Oliver spies Arthur sitting in
the corner of the bathroom,
staring directly at him.


ARTHUR SUBTITLE
Tell her the darkness
is about to drown us
unless something drastic

happens right now.

Oliver looks to her.


OLIVER
I feel bad dragging Arthur to the

party. I should get home. It was really nice meeting you.

She writes on her pad: “Au Revoir”

OLIVER (chuckles)

Au revoir. Yeah.

He leaves.
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28 de março de 2012

11 de outubro de 2011

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Auto-estima

Se pudesse mascarar o embaraço dos dias seguintes,
limpando dos meus olhos o espanto de te ver,
Talvez te escrevesse um poema.

Talvez se descrevesse um a um, a eloquência dos teus gestos banais,
com sucesso te enganaria que é científica, diria, esta vontade de te saber feliz.

Se me deixasse desprender do tecido em que teço um dia,
e achasse um fio de arrogância que me fizesse acreditar que era possível
às minhas palavras entrarem pelas cortinas do quarto em que guardas a auto-estima.
Eu escrever-te-ia.
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29 de janeiro de 2011

Perseguição

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Ando a ser perseguido. Por sonhos. Por Testemunhas de Jeová. Por livros.

Eu nunca sonho, existe o hábito de acontecer-me o que sonho e estraga a surpresa.

Aqui no seu calão londrino auto denominam-se "witnesses" e esta semana três diferentes testemunhas que entre si partilham apenas a crença no mesmo designer, a menos que aqui haja mão divina, resolveram abordar-me. Na plataforma da estação de comboio enquanto tento ludibriar com sombras e fumo as CCTV, fumo esse do cigarro razão de toda a encenação ferroviária. Em casa. E por carta. Mas foi na plataforma que mais agitado fiquei pois vi o senhor avançar confiante para mim, como se soubesse que eu estava ali e atirei o cigarro ao chão prematuramente, pois não era uma multa mas um panfleto com uma imagem de um leão por ventura sedado com ketamina tal a candura nos seus olhos.

Trocámos cumprimentos e historiais entrando juntos no comboio:

Clack! Soaram as portas com uma vontade mecânica extraordinária que me faz sempre, sempre pensar que se um dia desleixo ali um pé nunca mais jogo à bola.

Olha à tua volta, é possível tudo isto ter sido feito pelo acaso? Perguntou-me ele.

... o comboio começa a deslizar nos carris, a carruagem cheia e calada espera a minha resposta.

Eu gosto de deixar a porta aberta para que sim. disse rapidamente apercebendo-me quão teológico o meu inglês não é e quão difícil é manter uma audiência atenta.

Mas tu que leste, estudaste a Bíblia até, não achas que todas as respostas que precisávamos estão lá? perguntou-me ele com uma certeza muito bonita de ver num ser humano.

De facto acontece-me uma estranha dificuldade na aceitação do dado adquirido e uma incontornável necessidade pela experimentação. É raro ficar satisfeito com uma só fonte. por exemplo, não imagina como os sites de estatística desportiva são dispares em termos de golos marcados.

Mas esta não é uma fonte dada a erros, disse ele com um entusiasmo que me deixou enternecido e nostálgico. Já viste alguma coisa na bíblia que não tenha acontecido.

Não há nada de novo debaixo do sol, já dizia o rei Salomão. repeti eu dos confins, e vendo que ambos estávamos contentes com o que disse prossegui. sabe estou a ler um livro incrível que nos mostra precisamente isso por dentro e por fora, é maravilhoso. Em 1991 no país laico que é Portugal, este livro foi censurado e impedido de ir a concurso ao prémio Nobel, pois "atentava contra a fé cristã" contudo um dos responsáveis por esta decisão foi há poucos dias re-eleito como o presidente de Portugal.

Mas que livro é esse?

O Evangelho segundo Jesus Cristo de José Saramago, conhece?

Não. Mas você acredita?

Se acredito?

Que esse Saramago é Jesus Cristo.

Pestanejei um pouco a tentar focar os olhos dele, senti a cabeça a zumbir em Doppler. Para ser sincero nunca tinha pensado nisso. no entanto este é um livro de ficção. um romance.

Chegámos a Clapham junction. A estação de comboio mais movimentada da Europa e a última de muita gente. não a minha nem a dele. Enquanto procurava onde tínhamos deixado a conversa ele disse está ali um lugar e foi, eu fiquei de pé. Até Waterloo a pensar se ele alguma vez vai ler o livro. aposto que ele já se fez esta pergunta milhões de vezes.
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10 de março de 2010

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Ontem sonhei que ao ganhar uma batelada de dinheiro num concurso me tornava caçador de tesouros. Gosto de pensar que o meu eu sonhador não entendeu a ironia da sua escolha.

“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”
Amyr Klink
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4 de março de 2010

Claro que não.

Estação de Waterloo por volta das 9h30.

Entro na WHSmith, que mais não é que uma papelaria fernandes barra tabacaria barra loja de bomba de gasolina barra livraria, local portanto onde os londrinos se deslocam caso queriam comprar um jornal, uma revista, um marlboro.

Entro, apanho um jornal, entrego a moeda no balcão e preparo-me para sair.

Senhora atrás do balcão - chiurterddbr ofi prtund?

Eu - Desculpe?

Senhora atrás do balcão - Chocolate por uma libra?

Eu - ...

Eu - Claro que não.

Saio e vou comprar um café para acompanhar o cigarro enquanto o comboio não chega, um homem apenas deve tolerar um pequeno número de vicios antes das 10 da manhã.
A Inglaterra é o segundo país no mundo com maior taxa de obesidade e a culpa é da WHSmith, estou convencido.

31 de dezembro de 2009

Fotografia

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« On ne voit bien qu'avec le cœur. L'essentiel est invisible pour les yeux. » do livro Le Petit Prince
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Frase que pode ser ouvida num documentário sobre o Alberto Korda e dita pelo mesmo, enquanto nos aponta o dedo. Documentário esse que faz parte da exposição a decorrer na Cordoaria em Lisboa.
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5 de dezembro de 2009

Enquanto na Kilburn High Road - I

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John Demjanjuk é um homem de 89 anos actualmente a ser acusado de ter sido guarda num campo de concentração nazi. Foi prisioneiro de guerra na união soviética. Viveu nos Estados Unidos.

é

também um homem que depois de lhe ser retirada a nacionalidade americana e extraditado para Israel, foi nesse pais acusado de ter sido guarda num outro campo de concentração nazi. Foi condenado 'a morte depois ilibado por ter sido confundido com outra pessoa.

Deste homem diz-se que está muito doente, apesar de antes de ser apanhado, ter sido filmado a guiar um carro e andar pelo seu próprio pé. Este homem se confirmada a sentença viverá o resto da sua vida numa cela com quatro paredes, um tecto e refeicoes diárias, será esse o seu castigo, a sua prisão.

Um homem por quem passo quase todos os dias junto 'a estação de Kilburn disse-me que preferia essa prisão 'a sua liberdade de sem-abrigo.

O Simbolismo de não esquecer o passado para o bem da humanidade, serve-me como homem global e abstracto mas não como individuo na comunidade onde, de facto, existo.
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20 de novembro de 2009

Thirteen conversations about one thing

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Vi um filme, um bom filme, daqueles em que me fez relembrar a secreta vontade que tinha na adolescencia de viver em Nova Iorque, vontade essa presumo agora, vinha do facto de nos filmes que via nessa altura passados em Nova Iorque as personagens eram adultas, advogados, policias, jornalistas, jogadores de baseball, prostitutas, zés ninguém ou ricalhaços, pessoas com vidas, algo com que podia apenas sonhar presumia eu na minha angustia complexada de adolescente sem amigos adolescentes, angustia magra, angustia de paixões platónicas, angustia da colisão entre lições bíblicas de humildade e certezas de grandiosidade interior.
Neste bom filme passado em Nova Iorque em que curiosamente todos os planos são fechados, pouco mostram da cidade, e intensificam os duelos interiores de cada personagem, (Ok, ok não conto mais.) surge uma frase não inédita, pois há muito faz parte da gíria de quem lida com leis por um lado e teologia por outro mas, com o seu impacto.

"A fé é a antítese da prova."

Fez-me pensar que o que a frase tem de absoluto, falta-lhe em contemporaneidade. Não falo de estar ou não na moda, mas parece-me que digamos, no mundo inteiro e o fundamentalismo que vemos efervescer neste, fundamentalismo esse que tento racionalizar sempre em vão, não entendendo os passos na vida de um fundamentalista e não o digo por ignorância historia ou cegueira naive, conheço o fundamentalismo de perto, conheço o seu cheiro na estação de Aldgate East e Kings Cross St. Pancras, conheço o seu efeito familiar e ate se pudera dizer que sou beneficiário do seu efeito desportivo na minha profissão. Parece-me, dizia, que o quer que o fundamentalista religioso ande a ler, quer seja a Tora, o Corão, a Bíblia ou qualquer outro escrito para si sagrado, em nenhum dos posfácios destes livros se encontra a frase "...e tudo isto está provado, portanto quem não seguir a minha linha de pensamento deve morrer, no mínimo."

Nenhum destes livros, caso fosse apresentado como tese, ganharia boa nota, numa prova oral ninguém pudera dizer: "Sr. Professor, a serio, acredite em mim, o Moisés as tantas abriu o mar vermelho ao meio e salvou os hebreus da ira do faraó."

Como nota final e apenas a titulo de exemplo deixo apenas a seguinte ponderação: o que andam afinal estes workaholics do extremismo a ler? Ora entre outros profetas, Moisés é ou mais importante ou parte preponderante para a maior parte deles... os seus escritos fazem parte da Bíblia, da Tora, do Corão e já agora também tem o seu papel na Fé Rastafari e na Fé Baha'i. Querendo com isto dizer que o Moisés faz parte da Al-Qaeda.

Não, claro que não. Querendo com isto dizer que andam pessoas a morrer por diferentes leituras de uma mesma coisa. E' uma ideia tão ridícula como a anterior, mas desta ultima não posso dizer que estava a brincar.
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8 de novembro de 2009

No meu programa de televisao preferido aqui da ilha, o Later... with Jools Holland, que mais nao e' que um estudio cheio de bandas a tocar ou a falar 'a vez, esteve o seguinte line-up:

Foo Fighters, Norah Jones, Sting, Ginger Baker (baterista dos Cream), Stornoway (banda de putos de Oxford) e Erik Mongrain (um Canadiano que toca guitarra como ninguem, literalmente.)

E agora vou ver se trabalho...

24 de agosto de 2009

MHz

Desde há cinco dias que o meu viver passou a ser diferente. Vivo com a minha namorada.
Sempre disse que não gosto muito dessa palavra, namorada, parcialmente sem saber explicar o porque desse desgosto, sinto-me agora porém mais lúcido para o definir. Namorada é um adjectivo.

Quando se pergunta quem é esta pessoa? Responder é a minha namorada, como se essa fosse a totalidade do seu ser peca, eu acho que peca. Esta pessoa não existia mas agora cumpre a função de namorada e é isso que ficará a saber quem dela perguntar. Ora, se queremos ser reservados na resposta e não adiantar muito acerca da identidade da pessoa, prefiro dar o nome da dita. E resistir a demais inquisicoes.
Se ao desejo da pergunta se eleva o da resposta, pois começar pelo nome também não me parece um mau inicio.

Esclareço assim a necessidade da namorada ter mais além.

Lembro-me de ter ficado fascinado numa aula teórica de som, quando o professor apresentava as formas de propagação do som.
Sem entrar muito em tecnicalidades o som, assim como a luz, pode propagar-se em ondas curtas, longas e até ouçam só, médias.

Estas ondas, são como pessoas, as longas propagam-se de forma pouco forte (ouvimos radio, por exemplo com as restantes) através da superfície terrestre e se as pudéssemos visualizar, não veríamos uma onda, apenas um traço algo curvo, apenas uma fracção da onda em vez da total elipse da mesma.

Viver com uma pessoa é imagino, igual a uma aula de musica onde se aprende a dividir uma musica por instrumentos.

Vivo com uma mulher, com uma amiga, com uma confidente, com o outro lado do beijo. Com uma pessoa. Eu moro no seu refugio. Eu sou essa morada. (qualquer dia crio raízes nela, de tantos dias seguidos sem ir trabalhar.)

Ela tem um trabalho sério, daqueles que se estuda muito para obter e depois ainda mais para manter. Passa muito tempo fora de casa. No que eu trabalho é irrelevante, mas passo muito tempo em casa, sozinho.

Curioso como num passado recente praticamente não a via, mas estava permanentemente acompanhado. Agora vejo-a todos os dias e passo os dias sozinho, mas não só.

Das muitas coisas boas que viver com amigos nos dá, uma delas não é a oportunidade de estarmos sós com o nosso ser ou estar.

Sinto-me a redescobrir um amigo que já não via há algum tempo. Digo amigo porque nunca tive muita tendência para a auto-destruição, isso é um luxo dos ricos como a cleptomania por exemplo.

Quando vivemos com amigos, não estamos apenas, somos também um pouco deles. Quando se vive com amigos, ou outras pessoas, durante quatro anos, a individualidade esbate-se. Talvez não aconteça com todas as pessoas, mas comigo que sou do tipo romano emocional (aglutinador de impérios existenciais), sem duvida é esse o caso.

Esta mudança teve lugar há pouco tempo e assim vou descobrindo-a e todo o seu comprimento de onda, vou descobrindo-me. Somos ondas longas. Todos nós.